Não
foi a primeira, nem a segunda, nem a terceira e infelizmente não será a última.
Passei agora na Avenida Beira Rio, faço o possível para sempre incluí-la em
meus deslocamentos, apenas por ser um grande amante do Rio Piracicaba. Amor que
infelizmente muitos não tem, e que mais infelizmente ainda alguns têm apenas de
quatro em quatro anos. Ou de dois em dois, como queiram.
Devido à crise hídrica que
é conhecimento de todos (e, inclusive, meu), dei uma passada na Avenida Beira
Rio na tarde desta segunda feira ciente de que não encontraria o Piracicaba
esbanjando sua vitalidade, mostrando toda a sua força (embora nesses momentos
extremamente críticos que ele vem passando neste ano ele tem se mostrado
extremamente forte). Esperava, realmente, encontrar uma grande exposição de
pedras e bancos de areia, pessoas praticamente atravessando o rio a pé, etc.
Cenas infelizmente muito comuns em 2014.
Porém, não foi apenas isso
o que eu vi. Vi as pedras aparentes (que eram muitas) e os grandes bancos de
areia (sendo que um deles até parece que vai interromper o fluxo do rio), cenas
que infelizmente vêm se tornando muito comum em 2014. Nada anormal para um ano
com chuvas muito abaixo da média, embora nunca possamos esquecer que cerca de
31m3/s de água são desviados para abastecer a Grande São Paulo, e
que desse volume cerca de 40% é perdido (por vazamentos) antes da água chegar
às torneiras dos paulistanos. E que, portanto, não podemos culpar única e
exclusivamente São Pedro pela baixa vazão do rio.
Rio Piracicaba: nível baixo e margens à mostra. Foto de Antonio Claudio Sturion Jr. |
Além das pedras aparentes
e dos grandes bancos de areia, que, repito, vêm se tornando cenas muito comuns,
hoje (mais uma vez!!!) havia muita espuma. Ao parar meu carro para tirar
algumas fotos e fazer alguns vídeos, pude observar que muitas pessoas passavam
devagar para olhar o rio, algumas acompanhadas até apontavam com o dedo, e iam
embora. Infelizmente, as pessoas estão se acostumando e aceitando a presença
dela, e a espuma está se tornando mais uma cena muito comum no rio.
Muito comum???? Mas não mesmo,
pelo menos não para mim e para os membros das entidades das quais sou membro. Temos
que descer do carro, tirar muitas fotos, e depois “invadir” as redes sociais.
Cansei de repetir em minhas palestras, ou mesmo em conversas informais com
amigos: ESSA água é a MESMA água que você BEBE, que você dá para os seus FILHOS
beberem. Ou se não bebe usa para tomar banho, escovar os dentes...
Não podemos considerar uma
cena do rio coberto de espuma como sendo uma cena comum. Não só no caso do
Piracicaba, mas de todos os rios do nosso país. Em um ano de “crise hídrica”,
em que a população é incentivada a fazer economia sob o risco de ficar sem
água, não podemos aceitar como um fato comum sujarem o pouco de água que temos.
Biguá em meio à espuma. Foto de Antonio Claudio Sturion Jr. |
Mais chocante que ver
vários biguás nadando e se alimentando no meio da espuma, é ver que isso
ocorria “aos olhos” do nosso poder público (um dos vídeos que tive o grande
desprazer de fazer mostra o prédio da Prefeitura de piracicaba ao fundo).
Enquanto isso, o Tanquã foi reverenciado
em uma palestra do Centro de Estudos Ornitológicos (CEO) no Avistar (Encontro
Brasileiro de Observações de Aves), no domingo (18) em São Paulo. Nosso rio
pode não ter tantos amigos no poder público, pode não ter mais “Euclides” (que
corria para junto dele a cada denúncia de espumas ou peixes mortos no rio) na
Câmara de Vereadores, mas pude comprovar no domingo que ele tem amigos, amantes
e defensores no país inteiro.
Vou cansar de fazer
artigos para jornais e outras mídias, de fazer denúncias à CETESB e vou
“mandar” telejornais para o rio quantas vezes seja necessário. Pretendo morrer
fazendo isso. Por mais que as justificativas sejam sempre o “grande uso de
detergentes pelas donas de casa”, causa apontada como responsável pela
espuma que cobriu o rio Piracicaba na semana
do dia 12 de maio. Talvez, além de orientar as pessoas a economizarem água,
fosse o caso de uma campanha para a economia de detergentes. Como diria um ex
presidente, nunca se lavou tanta louça e tanta roupa neste país.
Espuma no Rio Piracicaba. Foto de Antonio Claudio Sturion Jr. |
Evidentemente, o uso de
detergente associado à baixa vazão do rio contribui para o aparecimento de
espuma. Mas assim como não podemos culpar apenas São Pedro pela baixa vazão,
não podemos culpar o detergente que usamos em nossa casa como causador da
espuma. É importante ressaltar que, mesmo o Estado de São Paulo sendo o mais
rico e mais desenvolvido do nosso país, nossas cidades ainda deixam muito a
desejar em tratamento de esgoto, ainda joga-se muito esgoto “in natura” nos
nossos rios.
Este ano de 2014 vem sendo
“encarado” como o “ano da crise hídrica”. Que aprendamos, então, com a crise.
Que passemos a ver a briga dos que muitos chamam de “ecochatos” (dentre os
quais tenho grande prazer de me incluir) como uma necessidade de sobrevivência.
Ou vamos esperar que, depois da liberação antecipada do volume morto do
Cantareira (a fim de se evitar um racionamento em ano eleitoral), o “Plano C”
dos nossos governantes frente à crise hídrica seja diminuir os impostos para
baratear a Coca Cola.
Antonio Claudio Sturion Junior, Engenheiro
Agrônomo (ESALQ-USP), membro do Instituto Aimara e membro da SODEMAP.
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