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quinta-feira, 22 de maio de 2014

ESPUMA NO RIO PIRACICABA: a agonia do rio.



Não foi a primeira, nem a segunda, nem a terceira e infelizmente não será a última. Passei agora na Avenida Beira Rio, faço o possível para sempre incluí-la em meus deslocamentos, apenas por ser um grande amante do Rio Piracicaba. Amor que infelizmente muitos não tem, e que mais infelizmente ainda alguns têm apenas de quatro em quatro anos. Ou de dois em dois, como queiram.


Devido à crise hídrica que é conhecimento de todos (e, inclusive, meu), dei uma passada na Avenida Beira Rio na tarde desta segunda feira ciente de que não encontraria o Piracicaba esbanjando sua vitalidade, mostrando toda a sua força (embora nesses momentos extremamente críticos que ele vem passando neste ano ele tem se mostrado extremamente forte). Esperava, realmente, encontrar uma grande exposição de pedras e bancos de areia, pessoas praticamente atravessando o rio a pé, etc. Cenas infelizmente muito comuns em 2014.
 
Porém, não foi apenas isso o que eu vi. Vi as pedras aparentes (que eram muitas) e os grandes bancos de areia (sendo que um deles até parece que vai interromper o fluxo do rio), cenas que infelizmente vêm se tornando muito comum em 2014. Nada anormal para um ano com chuvas muito abaixo da média, embora nunca possamos esquecer que cerca de 31m3/s de água são desviados para abastecer a Grande São Paulo, e que desse volume cerca de 40% é perdido (por vazamentos) antes da água chegar às torneiras dos paulistanos. E que, portanto, não podemos culpar única e exclusivamente São Pedro pela baixa vazão do rio.

Rio Piracicaba: nível baixo e margens à mostra.
Foto de Antonio Claudio Sturion Jr.
Além das pedras aparentes e dos grandes bancos de areia, que, repito, vêm se tornando cenas muito comuns, hoje (mais uma vez!!!) havia muita espuma. Ao parar meu carro para tirar algumas fotos e fazer alguns vídeos, pude observar que muitas pessoas passavam devagar para olhar o rio, algumas acompanhadas até apontavam com o dedo, e iam embora. Infelizmente, as pessoas estão se acostumando e aceitando a presença dela, e a espuma está se tornando mais uma cena muito comum no rio.

Muito comum???? Mas não mesmo, pelo menos não para mim e para os membros das entidades das quais sou membro. Temos que descer do carro, tirar muitas fotos, e depois “invadir” as redes sociais. Cansei de repetir em minhas palestras, ou mesmo em conversas informais com amigos: ESSA água é a MESMA água que você BEBE, que você dá para os seus FILHOS beberem. Ou se não bebe usa para tomar banho, escovar os dentes...

Não podemos considerar uma cena do rio coberto de espuma como sendo uma cena comum. Não só no caso do Piracicaba, mas de todos os rios do nosso país. Em um ano de “crise hídrica”, em que a população é incentivada a fazer economia sob o risco de ficar sem água, não podemos aceitar como um fato comum sujarem o pouco de água que temos.

Biguá em meio à espuma. Foto de Antonio Claudio Sturion Jr.
Mais chocante que ver vários biguás nadando e se alimentando no meio da espuma, é ver que isso ocorria “aos olhos” do nosso poder público (um dos vídeos que tive o grande desprazer de fazer mostra o prédio da Prefeitura de piracicaba ao fundo). Enquanto isso,  o Tanquã foi reverenciado em uma palestra do Centro de Estudos Ornitológicos (CEO) no Avistar (Encontro Brasileiro de Observações de Aves), no domingo (18) em São Paulo. Nosso rio pode não ter tantos amigos no poder público, pode não ter mais “Euclides” (que corria para junto dele a cada denúncia de espumas ou peixes mortos no rio) na Câmara de Vereadores, mas pude comprovar no domingo que ele tem amigos, amantes e defensores no país inteiro.

Vou cansar de fazer artigos para jornais e outras mídias, de fazer denúncias à CETESB e vou “mandar” telejornais para o rio quantas vezes seja necessário. Pretendo morrer fazendo isso. Por mais que as justificativas sejam sempre o “grande uso de detergentes pelas donas de casa”, causa apontada como responsável pela espuma  que cobriu o rio Piracicaba na semana do dia 12 de maio. Talvez, além de orientar as pessoas a economizarem água, fosse o caso de uma campanha para a economia de detergentes. Como diria um ex presidente, nunca se lavou tanta louça e tanta roupa neste país.

Espuma no Rio Piracicaba. Foto de Antonio Claudio Sturion Jr.
Evidentemente, o uso de detergente associado à baixa vazão do rio contribui para o aparecimento de espuma. Mas assim como não podemos culpar apenas São Pedro pela baixa vazão, não podemos culpar o detergente que usamos em nossa casa como causador da espuma. É importante ressaltar que, mesmo o Estado de São Paulo sendo o mais rico e mais desenvolvido do nosso país, nossas cidades ainda deixam muito a desejar em tratamento de esgoto, ainda joga-se muito esgoto “in natura” nos nossos rios.

Este ano de 2014 vem sendo “encarado” como o “ano da crise hídrica”. Que aprendamos, então, com a crise. Que passemos a ver a briga dos que muitos chamam de “ecochatos” (dentre os quais tenho grande prazer de me incluir) como uma necessidade de sobrevivência. Ou vamos esperar que, depois da liberação antecipada do volume morto do Cantareira (a fim de se evitar um racionamento em ano eleitoral), o “Plano C” dos nossos governantes frente à crise hídrica seja diminuir os impostos para baratear a Coca Cola.


Antonio Claudio Sturion Junior, Engenheiro Agrônomo (ESALQ-USP), membro do Instituto Aimara e membro da SODEMAP.

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