Translate

sábado, 17 de julho de 2021

QUANDO A SOLUÇÃO SE TORNA UM PROBLEMA Partes da floresta amazônica emitem mais CO2 do que conseguem absorver. Desmatamento e queimadas estão entre as principais razões.

 

Publicação científica desta semana na revista Nature, uma das mais renomadas do mundo, indica que o bioma amazônico em sua região sudeste tem perdido a função essencial de sequestro de carbono, passando ao status de fonte emissora ao longo das estações de seca. O estudo multidisciplinar consistiu na coleta de dados atmosféricos em diferentes regiões ao longo de nove anos (2010-2018), e buscou traçar um parâmetro de absorção e emissão de carbono nos processos biológicos da floresta. Os resultados são alarmantes e indicam uma transição na porção sudeste do bioma, em que a floresta tem uma capacidade cada vez menor de absorção de carbono em contraste a um aumento crescente ao longo dos períodos de seca.

Historicamente, as florestas tropicais sempre desempenharam um papel único na absorção da emissão de gases-estufa. Não obstante a utilização cada vez mais intensa de combustíveis fósseis nas últimas décadas, o balanço permaneceu consistente: florestas continuaram a absorver boa parte das emissões. E isso se deve ao longo período anual de crescimento de todo o ecossistema, em que o sequestro de carbono se intensifica nos processos de fotossíntese.

Ocorre que a intervenções antrópicas têm sido cada vez mais severas, e mudado o comportamento da própria floresta.

O desmatamento e as queimadas têm resultado no aquecimento da região. Estima-se que a porção leste da floresta amazônica tenha aquecimento em até 0.6°C por década, ao longo do período de seca, nos últimos 40 anos. No acumulado, é possível observar o aumento de temperatura de até 2°C, e a redução da incidência de chuvas em 35%.

O resultado é a perda de carbono nesta região.

A coleta de dados indica que esta região passou a ser uma fonte emissora de carbono. A caixa de pandora consistente em desmatamento, estações secas prolongadas, queimadas, e processos de decomposição orgânica ameaçam esta função primordial da floresta no sequestro de carbono no futuro.

As mudanças climáticas são o maior desafio já enfrentado pela humanidade. Órgãos internacionais, como o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), asseveram as certezas científicas de que o planeta, como um todo, tem passado por mudanças drásticas no clima, com aumento da temperatura atmosférica e dos oceanos, perda da biodiversidade, prolongamento de secas, intensificação de tempestades, aumento de furacões e inundações, entre outros. E a alta concentração de gases-estufa contribui na atmosfera é um fator-chave que intensifica as mudanças climáticas.

E as florestas são adotadas como uma solução. O SEQUESTRO DE CARBONO consiste na utilização da floresta em pé para a retirada deste gás-estufa da atmosfera, cuja emissão decorre principalmente dos processos industriais. Neste sentido, quanto maior a quantidade de floretas, maior o processo de fotossíntese e de aprisionamento deste carbono na própria floresta.

A região sudeste da floresta amazônica compreende os Estados do Pará e Mato Grosso, onde as médias registradas de desmatamento pelos órgãos oficiais estão sempre entre as maiores do bioma. O avanço da grilagem, da pecuária e do cinturão da soja estão entre os principais fatores de pressão sobre a floresta.

Os estudos não compreendem o atual período de aumento na incidência de desmatamento e queimadas registrado a partir do início do Governo Bolsonaro. O desmonte dos órgãos públicos de fiscalização, o abandono das políticas públicas de financiamento de atividades sustentáveis na região, e a flexibilização das exigências de licenças ambientais para a exploração de recursos naturais, com toda certeza, são fatores que intensificam ainda mais este processo de perda da capacidade da floresta na absorção de carbono da atmosfera.

Apesar das manifestações e compromissos assumidos pessoalmente pelo Presidente Bolsonaro na Cúpula do Clima realizada em abril de 2021, a tônica do seu governo tem sido o negacionismo da ocorrência de queimadas e desmatamento, e do eloquente discurso patriótico-nacionalista, de soberania brasileira face a interesses internacionais obscuros sobre a Amazônia. A Pasta do Meio Ambiente sofreu mudança recente: Joaquim Álvaro Pereira Leite assumiu o comando do ministério após a conturbada saída de Ricardo de Aquino Salles. O antigo ministro foi alvo de investigações da Polícia Federal por supostas condutas irregulares praticadas em sua gestão.