A
Prefeitura de Piracicaba realizou o corte de 20 árvores existentes na Avenida
Independência, apenas em seu trecho que passa ao lado do Cemitério da Saudade e
do Estádio Municipal Barão de Serra Negra, de aproximadamente 200m. Segundo
reportagens na imprensa local, eram todas sibirunas, árvores que não possuem
muita admiração por parte de boa parte da população, devido aos “problemas”
(??) provocados pelas suas folhas, flores e raízes. No lugar delas, a
Prefeitura diz que serão plantados ipês (talvez as árvores que exercem maior
fascínio, maior admiração das pessoas), dando uma falsa sensação de melhoria do
local.
O
corte ocorreu na manhã de ontem (29/05/14), chamando a atenção de todos que
passavam no local e provocando a revolta de muitos, que aproveitavam o trânsito
lento e tiravam fotos com seus celulares. Em poucos minutos, as fotos foram compartilhadas
e “invadiram” as redes sociais. A página “O rio é nosso e agora nós vamos
defendê-lo” compartilhou uma matéria do site G1 sobre o assunto e em poucas
horas esse post foi visualizado por
mais de 6000 pessoas, e teve mais de 50 compartilhamentos de pessoas que
queriam expressar a sua indignação em seus perfis no Facebook.
O
Instituto AIMARA esteve no local na manhã desta sexta feira (30/05/14). A
primeira constatação é que não foram cortadas apenas sibipirunas, mas também,
um falmboyant e em ipê. Porém, esse não foi o único problema constatado, nem o
maior deles. Não eram todas as árvores
que estavam ocas e com cupins, constatamos “problemas” em apenas 10 das 20
árvores analisadas. As fotos a seguir mostram que este Flamboyant (Delonix regia) estava, pelo menos,
aparente e extremamente saudável.
Foto:
Antonio Claudio Sturion Junior
Essas fotos são dos galhos do Flamboyant, e como podemos observar não existe nenhum sintoma de podridão, ataque de cupins, de outras pragas e de doenças. Evidentemente, devemos levar em consideração que um dos maiores problemas é o ataque de cupim subterrâneo, que começa a destruir a árvore de baixo para cima. Por sorte, encontramos uma Sibipiruna cortada bem rente ao solo, mostrada na foto a seguir, e que também não possui indícios de “problemas”. O problema nesse caso foi a proximidade com o poste.
Foto: Antonio Claudio Sturion Junior |
Algumas árvores, como dito
anteriormente, apresentavam pedaços ocos em seus troncos, conforme foto a
seguir; outras, problemas menores. Pouquíssimas apresentavam problemas
considerados “sérios”. Observe a foto a seguir. Embora atacada por cupim, será
que seria realmente necessário matá-la para prevenir uma possível futura queda?
Devemos lembrar que recentemente uma chuva forte derrubou um pedaço do muro do
cemitério e essas árvores continuaram de pé (assim como o “Chichá do São
Dimas”, que recentemente foi condenado à morte e que continua de pé).
Foto: Antonio Claudio Sturion Junior |
Foto: Enéas Xavier de Oliveira Jr. |
Ao
final da nossa vistoria, um fato nos chamou muito a atenção. Uma daquelas cenas
que cortam o coração de todos aqueles que são amantes da natureza (isso mesmo
nossos corações, assim como o de muitos piracicabanos, já estavam bastante
“surrados” pelas fotos tristes que vimos nas redes sociais e por ter ido
presenciar in loco essa tremenda barbárie ambiental. Um Beija Flor Tesourão
cantava, pousado em um galho de Pau Brasil (uma das únicas árvores que
restaram), como se quisesse transmitir para nós o seu lamento por todas aquelas
árvores mortas (as sibipirunas possuem flores atrativas aos beija flores).
Foto: Antonio Claudio Sturion Junior |
Saímos
do cemitério e descemos a Avenida Independência, olhando as árvores e já
pensando no pior que ainda possa estar por vir. Paramos no final da avenida,
onde existe uma Sibipiruna quase na esquina com a Rua Governador. A área da
copa dessa árvore é de aproximadamente 9m x 12m. Fizemos uma avaliação
superficial das condições dessa árvore, e aparentemente ela não apresenta
nenhum problema de ataque de pragas, doenças, nutrição e de desenvolvimento das
suas raízes. Nessa avaliação, tivemos o prazer de constatar a presença de um
ninho de Asa Branca, com seus filhotes.
Prazer enorme que contrastava com a dúvida de quantos ninhos podem ter sido
derrubados, ou deixarão de ser construídos naquelas árvores que foram mortas
ontem.
Não vamos entrar nos BENEFICIOS (que são MUITOS) que as
arvores grandes (não gosto do "velhas") proporcionam. Cortá-las para
PREVENIR uma POSSIVEL queda é um absurdo. São graves?? Sim. Preocupam? Sim.
Podem provocar danos ao patrimônio individual? Sim. Mas a chance de isso
ocorrer é pequena. E os benefícios (despoluição do ar, menor temperatura,
aumento da umidade, etc) compensam esse baixo risco. Ou então vamos proibir os
CARROS e andarmos todos a pé, porque os carros também proporcionam risco às
pessoas, podendo até matar (e o número de acidentes e mortes por acidentes de
carro é muito maior que o provocado pela queda de árvores). Ninguém é contra os
carros, já que eles (e os ônibus) são fundamentais para a nossa mobilidade.
Então pr que MATAR as arvores por PREVENÇAO de problemas?! Mesmo, porque, elas
são fundamentais à VIDA!
Antonio Claudio Sturion Junior, Engenheiro Agrônomo
(ESALQ-USP)
Eneas Xavier de Oliveira Junior, Advogado Mestre em Direito Ambiental (UNIMEP)
Eneas Xavier de Oliveira Junior, Advogado Mestre em Direito Ambiental (UNIMEP)
Ninfa Zamprogna Barreiros, Economista Doméstica (ESALQ-USP)
Foto: Antonio Claudio Sturion Junior |