http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/06/120620_ativistas_mortos_jc_ac.shtml
Atualizado em 20 de junho,
2012 - 19:47 (Brasília) 22:47 GMT
Um estudo da ONG Global Witness concluiu que 711 ativistas
foram assassinados no mundo todo ao longo da última década por protegerem a
terra e a floresta - e mais da metade são brasileiros.
De acordo com a pesquisa, divulgada durante a Rio+20, 365 brasileiros foram
mortos entre 2002 e 2011 ao defenderem direitos humanos e o meio ambiente.
Depois do Brasil, os dois países com mais mortes no período também estão na
América do Sul: o Peru, com 123 mortos, e a Colômbia, com 70.
Para o pesquisador britânico Billy Kyte, o alto número de mortes no Brasil se
deve a uma conjunção de fatores que fazem a concorrência pela terra e pelos
recursos naturais se intensificar e geram maior pressão - e tensão - no
campo.
Ele enumera a desigualdade na posse de terra no país, com a concentração de
propriedades nas mãos de latifundiários; o grande número de comunidades que tira
o seu sustento da terra; e a atuação de setores cuja produção consiste também em
explorar a terra, como oagropecuário, de mineração e madeireiro.
Mas Kyte acredita também que os números sejam mais altos no caso brasileiro
porque o monitoramento é melhor, graças ao relatório anual produzido pela
Comissão Pastoral da Terra sobre conflitos de terra no país.
Sobretudo em países da África e da Ásia, a ONG teve dificuldades em levantar
números de mortos, já que os relatos são esparsos.
"Provavelmente há muitos outros casos que permaneceram ocultos. E o estudo
nem leva em consideração as milhares de pessoas sendo intimidadas ou ameaçadas",
diz. "Há uma grave falta de informações sobre essas mortes a um nível global, e
ninguém está monitorando."
Uma morte por semana
Segundo Kyte, a pesquisa busca preencher uma lacuna, oferecendo um panorama
internacional dos perigos no campo.
Intitulado "Uma crise oculta? Aumento das mortes decorrentes do acirramento
do conflito pelo acesso a terra e as florestas", o estudo indica que há, em
média, mais de um assassinato por semana em contextos relacionados à proteção
ambiental.
O número de mortes vêm aumentando, tendo dobrado nos últimos três anos em
relação ao restante do período.
De acordo com Kyte, o objetivo é expor na Conferência da ONU para o
Desenvolvimento Sustentável que a proteção ao meio ambiente e aos direitos
humanos está se tornando um campo de batalhas por recursos, e traz cada vez mais
risco para as pessoas.
"Pedimos que os governos investiguem esses assassinatos, façam a justiça e
tragam compensações às famílias que estão defendendo seus direitos à terra e à
floresta", diz Kyte.
Os casos investigados pelo estudo são de pessoas mortas em ataques ou
confrontos decorrentes de protestos, investigações ou denúncias contra
atividades de mineração, exploração madeireira, agropecuária, plantações de
árvores, barragens hidrelétricas, desenvolvimento urbano e caça ilegal.
Sete desses casos estão sendo apresentados a partir desta quarta-feira na
Rio+20, em uma exposição fotográfica com imagens de sete ativistas e sua
história de vida e de morte.
O brasileiro Nísio Gomes faz parte da exposição. Líder de um acampamento
indígena Guarani-Kaiowá no Mato Grosso do Sul, ele foi levado por 40 homens
armados em novembro de 2011 e seu corpo nunca foi encontrado.
A terra estava em vias de ser oficialmente reconhecida como território da
comunidade, mas estava sendo usada por agricultores e fazendeiros
locais.
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