A água tem um ciclo curto e um ciclo longo. O ciclo curto é este que vemos ocorrer. A água é liberada por evapotranspiração da vegetação, ou evapora dos corpos d’água continentais, ou ainda dos mares. As massas de umidade assim formadas são então transportadas por ventos e irá chover em algum lugar. A chuva quando cai no continente, em parte escorre superficialmente enchendo rios e reservatórios naturais (lagos, lagoas) ou artificiais, no caso formado por barragens construídas pelo homem. Outra parte infiltra no solo, podendo formar aqüíferos superficiais ou profundos.
Os aqüíferos superficiais são estes, explorados por poços rasos, e os profundos ficam abaixo de um tipo de rocha impermeável e só podem receber água na zona de recarga. O aqüífero Guarani é deste segundo tipo. Ao contrário do que pensa a população, o aqüífero Guarani não é um rio subterrâneo, mas é constituído de rochas mais porosas, arenitos geralmente, vindas das formações que a geologia chama de Botucatu e Bauru, constituídas principalmente por rochas areníticas. Por serem porosas, estas rochas armazenam água. Para explorar este tipo de aqüífero é necessário poços mais profundos, os chamados artesianos. Pode parecer uma simples equação explorar água subterrânea para suprir o que não existe na superfície, mas há problemas e é necessário cautela.
Como explicado acima, a água de subsolo também é abastecida pelas chuvas e, no caso dos aqüíferos como o Guarani, só podem ser abastecidos pela chuva na área de recarga. Assim é muito mais demorado encher os reservatórios subterrâneos profundos que os superficiais, e ambos dependem da água da chuva. Se procurarmos onde é a área de recarga do Guarani que interessa ao menos aqui para a nossa região próxima a Piracicaba e S. Paulo, veremos que é uma faixa, no interior de S. Paulo que passa por Piracicaba, região que não tem recebido chuva expressiva há pelo menos 2 anos. Assim explorar demasiadamente e sem critérios o aqüífero Guarani só vai resultar em esgotamento do aqüífero.
Também temos que considerar que a área de recarga não pode ser impermeabilizada (como é o caso grandes cidades que impermeabilizam o solo com construções, asfaltos, etc) e deve-se ter uma atenção extrema para não poluir o aqüífero, cuidando, por exemplo, do tipo e lugar de construção de aterros sanitários e até represas, pois estas se tiverem a água poluída, poluirão também o aqüífero. É certo que países no exterior, especialmente europeus, cuidem até mesmo de aumentar a recarga fazendo inclusive poços para isso, onde se injeta a água que será filtrada e mineralizada pelo solo, porém lá também a questão poluição e preservação de rios e mananciais são tratadas com muita responsabilidade.
Temos que lembrar ainda que se os rios são perenes, justamente, é porque no período de secas são abastecidos pelos aqüíferos. Assim nas secas os aqüíferos tendem a rebaixar, fenômeno que pode inclusive secar alguns poços como vem sendo relatado pela mídia nas áreas do Sistema Cantareira e das bacias PCJ. A perfuração excessiva de poços só vai causar um esgotamento mais rápido de um aqüífero que também está já afetado pelo parco regime de chuvas dos últimos anos e pela sobre-exploração que já ocorre. Mesmo a água subterrânea tem que passar por uma gestão. Resumindo, até na questão aqüífero o problema está vinculado a gestão de recursos hídricos e meio ambiente em geral.
De autoria de nossa querida Silvia Regina Gobbo, integrante do Instituto Aimara.
Doutora em Ciências Biológicas pelo Museu Nacional UFRJ,
Professora do Curso de Biologia da Universidade Metodista de Piracicaba.
Professora do Curso de Biologia da Universidade Metodista de Piracicaba.
CIÊNCIAS BIOLÓGICAS (ZOOLOGIA) - Museu Nacional UFRJ